Os poemas abaixo foram retirados da Obra Decadência, de 1923, mandada queimar pelo Governo Civil de Lisboa, na sequência de uma campanha liderada pela conservadora Liga de Ação dos Estudantes de Lisboa, contra "os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, autores e vendedores de livros imorais".
Felizmente, a Obra de Judith Teixeira resistiu até aos dias de hoje e encontra-se incluída em várias coletâneas, nomeadamente "Poesia e Prosa" .
Lista:
A Estátua
O teu corpo branco e esguio
prendeu todo o meu sentido…
Sonho que pela noite, altas horas,
aqueces o mármore frio
do alvo peito entumecido…
E quantas vezes pela escuridão,
a arder na febre dum delírio,
os olhos roxos como um lírio,
venho espreitar os gestos que eu sonhei…
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- Sinto os rumores duma convulsão,
a confessar tudo que eu cismei!
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Ó Vénus sensual!
Pecado mortal
do meu pensamento!
Tens nos seios de bicos acerados,
num tormento,
a singular razão dos meus cuidados!
Perfis Decadentes
Através dos vitrais
ia a luz a espreguiçar-se
em listas faiscantes,
sob as sedas orientais
de cores luxuriantes!
Sons ritmados dolentes,
num sensualismo intenso,
vibram misticismos decadentes
por entre nuvens de incenso.
Longos, esguios, estáticos,
entre as ondas vermelhas do cetim,
dois corpos esculpidos em marfim
soergueram-se nostálgicos,
sonâmbulos e enigmáticos…
Os seus perfis esfíngicos,
e cálidos
estremeceram
na ânsia duma beleza pressentida,
dolorosamente pálidos!
Fitaram-se as bocas sensuais!
Os corpos subtilizados,
femininos,
entre mil cintilações
irreais,
enlaçaram-se
nos braços longos e finos!
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E morderam-se as bocas abrasadas,
em contorções de fúria, ensanguentadas!
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Foi um beijo doloroso,
a estrebuchar agonias,
nevrótico ansioso,
em estranhas epilepsias!
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Sedas esgarçadas,
dispersão de sons,
arco-íris de rendas
irisando tons...
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E ficou no ar
a vibrar
a estertorar,
incandescido,
um grito dolorido.
A Minha Amante
"............................... a dor
só lhe perco o som e a cor
em orgias de morfina!"
Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!...
Eles sabem lá o que há de sublime,
Nos meus sonhos de prazer...
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome...
Dizem - e eu não protesto -
Que seja qual o for o meu aspeto
Tu estás na minha fisionomia
E no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer...
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar;
Levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo -
Não entendem deste luar de beijos...
- Há quem lhes chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo...
E eu em sombras alheio-me dispersa...
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo...
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruínas...
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltas aos meus apelos dolorosos...
- Adormenta esta dor que me domina!
- Judith Teixeira
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