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Anne Lister (1791-1840)


Anne Lister c. 1830 in a portrait by Joshua Horner

País: Reino Unido

Ocupação: diarista, latinfundiária, viajante


Descrição: considerada a primeira Lésbica Moderna da História, cuja vida se encontra retratada nos seus famosos diários





 

Anne Lister, nascida a 3 de abril de 1791, em Halifax (Reino Unido), foi uma latifundiária (proprietária de terras) rica e independente, que ficou conhecida através dos seus diários codificados. É considerada a primeira "lésbica moderna" da história.


Nos seus  diários, narrava os detalhes da sua vida quotidiana, incluindo os seus relacionamentos amorosos com outras mulheres, as suas preocupações financeiras, atividades industriais e o trabalho que dedicava a planear as obras e o paisagismo da sua propriedade, o "Shibden Hall", que herdou do tio, James Lister, falecido em 1826. Os seus escritos revelaram, também, que Lister tinha interesse por inúmeras atividades que na altura não eram atribuídas a mulheres, nomeadamente grego clássico, matemática, montanhismo, mineração, entre outras. Podemos afirmar que Anne Lister era uma mulher com muitos estudos e extremamente culta.


Devido ao seu aspeto considerado masculino, os habitantes de Halifax referiam-se a Anne Lister como "Gentleman Jack". Em alguns escritos também aparece retratada por "Freddie", tendo sido assim apelidada por uma das suas amantes, nomeadamente em cartas.


Anne Lister viajava regularmente e tinha uma grande paixão pelos Pirinéus, tendo sido a primeira  mulher a chegar ao Monte Perdido e a primeira pessoa a escalar o Vignemale (terceiro e quarto pico mais alto dos Pirinéus, respetivamente).


"Shibden Hall", aberto ao público, parque público de Shibden, West Yorkshire, Inglaterra.


Os seus diários contêm mais de 4.000.000 de palavras e cerca de um sexto delas foram escritas em código (nomeadamente as que relatavam os detalhes íntimos dos seus relacionamentos amorosos e sexuais, incluindo técnicas de sedução e o número de orgasmos que ia tendo).



O código, derivado de uma combinação de álgebra e grego antigo, acabou por ser decifrado. John Lister, descendente de Anne, foi o primeiro a decifrar o código, mas manteve os diários em segredo. A segunda pessoa a decifrar oficialmente o código foi a historiadora Helena Whitbread, que descobriu os diários em 1983 nos arquivos de Calderdale. Helena passou a dedicar a sua carreira a estudar e a editar os diários de Anne Lister, tendo tornado o seu conteúdo público pela primeira vez em 1988, com a publicação do livro "I Know My Own Heart".


Helena Whitbread

Anne Lister começou a escrever os diários aos 15 anos, altura em que conheceu o seu primeiro amor num colégio interno, de seu nome Eliza Raine. Foram também relatadas nos diários relações com Isabella 'Tib' Norcliffe, Mariana Belcombe (considerada o amor da vida de Anne), Maria Barlow e Ann Walker (com quem se veio a casar, ainda que sem reconhecimento legal), entre outras.


Ann Walker era herdeira de outro dos grandes terrenos de Halifax. Lister e Walker viveram juntas no Shibden Hall até ao falecimento de Lister,  durante uma viagem à Russia, em Kutaisi, no ano de 1840, aos 49 anos.


Foi lançado um filme sobre a vida de Anne Lister em 2010, pelo canal BBC, intitulado de "The Secret Diaries of Miss Anne Lister". Em 2012 foi lançada uma música, também, sobre Anne, com o nome de "Gentleman Jack", pelo duo O'Hooley & Tidow.


No dia 24 de julho de 2018, foi inaugurada uma placa em homenagem de Anne Lister e em reconhecimento do seu casamento na igreja da Santíssima Trindade em York, na Inglaterra, marcando o local onde Anne Lister recebeu comunhão com Ann Walker depois de trocarem anéis em casa há cerca de 200 anos.

"Empreendedora que não se conformava com os papeis de género. Celebrou compromisso conjugal, sem reconhecimento legal, com Ann Walker nesta igreja. 1834"

É comum afixar-se uma placa azul destas para designar locais e personalidades importantes na história da Inglaterra. Esta é a primeira placa azul rodeada com um arco-íris.


Nela se pode ler: "Empreendedora que não se conformava com os papeis de género. Celebrou compromisso conjugal, sem reconhecimento legal, com Ann Walker nesta igreja. 1834".


O facto de na placa constar "gender-nonconforming" em vez de mencionar a orientação sexual de Lister, levou a protestos e à criação de uma petição para alterar o texto. Nos protestos afirma-se: "Anne Lister, definitivamente não se conformou com os papéis de género durante toda a sua vida. Contudo, ela foi, também, lésbica. Não deixem que apaguem essa mulher icónica da nossa história." Os protestos colheram frutos e Julie Furlong, que iniciou a petição, disse à BBC que estava satisfeita pelo fato de o texto estar a ser mudado: "Estou muito feliz por eles terem percebido que a retirada da palavra 'lésbica' não é aceitável, mas vou esperar pelas palavras finais antes de expressar minha opinião".


A placa foi efetivamente mudada, como se pode ver abaixo:


Passou a constar na placa:

" Lésbica e Diarista; aqui tomou o sacramento para selar a sua união com Ann Walker".


A orientação sexual de Anne Lister está bem patente na que, provavelmente, é a frase mais famosa do seu diário: "Eu amo e apenas amo o sexo mais justo, e sou amada por ele em retorno, o meu coração revolta-se com qualquer outro amor que não o delas". Anne Lister escreveu 26 volumes, que nos oferecem uma visão detalhada da sua vida enquanto lésbica nos inícios do século XIX, mas não só. Também podemos ler sobre as tensões familiares da Família Lister (uma das mais importantes e ricas de Halifax na altura), sobre a sociedade de Halifax e a indústria de Yorkshire com um detalhe extraordinário.  A escritora Emma Donoghue afirmou que o Diario de Lister corresponde aos "Manuscritos do Mar Morto" da história lésbica e mudam tudo. ("Os Manuscritos do Mar Morto são a versão mais antiga do texto bíblico.) A escritora Sarah Waters diz-nos que  os Diários de Anne Lister são uma leitura indispensável para qualquer interessado em história de género, sexualidade e vidas íntimas das mulheres.  A Professora Catherine Euler da Universidade do Arizona acredita que os diários de Anne Lister representam a obra de não ficção escrita na primeira pessoa mais antiga sobre sexualidade lésbica e não conhece nenhuma outra obra do género em nenhum outro lugar do planeta. 



Segue abaixo uma lista de obras referentes a Anne Lister incluindo todas as obras de Helena Whitbread:

[1988] I Know My Own Heart (Helena Whitbread)


[1993] No Priest But Love (Helena Whitbread)

[1994] Presenting the Past: Anne Lister of Halifax, 1791-1840 (Jill Liddington)

[1997] Female Fortune: Land, Gender and Authority (Jill Liddington)


[2003] Nature’s Domain: Anne Lister and the Landscape of Desire (Jill Liddington)


[2010] The Secret Diaries of Miss Anne Lister (Helena Whitbread)


[2014] Anne Lister's Secret Diary for 1817 (Patricia Hughes)


[2015] The Early Life of Miss Anne Lister and the Curious Tale of Miss Eliza Raine (Patricia Hughes)


[2016] Secret Diaries Past & Present (Helena Whitbread)


[2017] Anne Lister: Eine erotische Biographie (Angela Steidele, edição original em alemão)




Eu amo e apenas amo o sexo mais justo, e sou amada por ele em retorno, o meu coração revolta-se com qualquer outro amor que não o delas.

Anne Lister (1791 - 1840)



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